OBJETO DO DESEJO

Por: Jorge Luiz Bledow

Estive pensando – às vezes eu até penso – que esse negócio de objeto inesquecível, objeto do desejo, na vida adulta, é coisa de.. como diria, homem, digamos, não muito convicto.

Na infância o objeto de desejo da criança é o peito da mãe. Mamar, saciar a sede e a fome, mais que desejo, é questão de sobrevivência.

A vida anda, e, na adolescência, fica um pouco mais complexa, mais colorida. Começamos a nos interessar em objetos e objetos vivos. Nossos olhos tornam-se espiões, observam, descobrem coisas bem interessantes. Olhares se cruzam, expressões suspiram, corações disparam. A vida se exer-excita. Os pensamentos a mil. Férteis imaginações!

Formam-se os grupos, as tribos. Elegem-se ídolos, não sabemos como, mas abarcam a maioria dos idolatrantes, assim do nada de uma hora para outra, sem combinações, sem explicações.

E a vida continua. A juventude vem, e, quando nos damos conta, ela se instala contaminando-nos com energia primaveril. O objeto inesquecível muda conforme o desejo, conforme o momento. São tantas coisas... Na maioria das vezes resumida num só: um exemplar atraente do sexo oposto.

Jovens rapazes só pensam, só tem olhos, para jovens mulheres gostosas, bem fornidas, e estas todas, não só as belas, têm olhos, corações e mentes para rapagões bem torneados. Quase sempre. Vem no pacote objetos expostos nas vitrines dos shoppings. Roupas de marca, perfumes, carrões, bolsas, jóias, tudo isso e algo mais.

Nunca tive ídolos. Também não tive algum objeto inesquecível ou coisa que valha. Mas, pensando bem, ou não tive ou já não me lembro!

Está certo, na juventude sonhei com grandes shows. Tentei assistir filmes maravilhosos. Já treinei grandes frases com discurso difícil para o momento de enfrentar meu objeto do desejo secreto, mas isso nunca aconteceu. Na hora sempre deu algo errado, as palavras não saíram. Mesmo assim as coisas ocorreram de forma totalmente diferente do que eu imaginei. Simplesmente aconteceram sem grande produção, sem efeitos especiais, sem glamour.

A vida anda. O tempo passa e, pensando bem, temos sim um grande e inesquecível objeto do desejo que gostaríamos de recuperar:

- A juventude!